quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Prosa poética & gêneros

Este é um dos meus primeiros textos classificados como "prosa poética". Embora desconfie dos gêneros, eles parecem se fazer necessários. Há uma busca por definição das expressões criativas desde sempre, onde quer que a arte - ou aquilo a que chamamos de arte - se apresente. Outros diriam que o que importa é a qualidade literária (neste caso) o que também surge como algo quase da ordem do imponderável, que depende quase sempre de um argumento de autoridade. Quero dizer, daqueles que são reconhecidos no meio literário como pessoas capazes de emitir um julgamento sobre o que seria ou não "literatura".
Mas talvez um leitor atento e dedicado, embora anônimo, tenha a sensibilidade precisa para ler algo e perceber intuitivamente se essa qualidade está lá ou não. É quase mágico este momento! E acontece o tempo todo para os viciados em leitura. 
Espero que apreciem, então, a "prosa poética" do texto abaixo, cuja "história" teve vergonha de aparecer de corpo inteiro e só conseguiu mostrar-se em silhueta subjacente e escorregadia.

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Extravio no. 2

Novo exílio. Choques. Renovação? Disparate.
Pouco te arredarás de ti, embora tempo e espaço. Memória sem escape. Dores e dúvidas, sempre.
Fora, o concretado design do horizonte. Aqui, o verde e as ondas.
Nostalgia. Cidade feliz nunca mais? Mas trouxeste a floresta contigo...
Dormes, amanhã serás nascituro.  Pele nova, guerrearás com o dia, transmutarás. Como o azul da morpho didius entre os arranha-céus.
Divino dia, maligno ar - mas haverá protestos de agapantos e clerodendros...e da plena lua a engravidar os globos do mundo. Safira no céu. Cinza no perto. Preto em corpos andantes.
Começou. Sem a curva do tempo, resta deixar-te ir.
Para onde? Adiante, talvez.
Não queiras saber do impossível. Vive o mistério.
Aceita o contingente.
O que precisas. O que se esvai. O que fica?
E todo o resto.
Nada além disso. Nada além do que deve ser cumprido.
Tudo o mais é engano. Maya.
Amor em branco. Pane. É a lei desta era: noli me tangere.
Extinto o afeto, após o excesso dos bárbaros.
Pílulas para o prazer. Mudez. Solitude.
Naqueles dias.

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