sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Imaginário e arte em Van Gogh

Em 2004 defendi mestrado na área de Antropologia do Imaginário da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) com uma dissertação intitulada Arte e Sensibilidade: as estruturas figurativas no universo de Vincent van Gogh.
A banca aprovou o trabalho com distinção e louvor e indicou o texto para publicação. Entretanto, até hoje não consegui meios de publicá-lo.
Para este ano, pretendo ir com mais afinco e persistência em busca de apoio para a publicação.
Anexo abaixo o resumo técnico desta pesquisa que consumiu cinco anos da minha vida, mas Van Gogh fez valer cada momento. A linguagem é meio específica, com jargões acadêmicos, mas no futuro espero postar aqui a notícia da publicação em livro, com o texto já devidamente revisado para o público em geral.








Pesquisa teórica de teor antropológico, trazendo a exame algumas estruturas de sensibilidade no cosmo imaginário do pintor holandês Vincent van Gogh.
O estudo teve como suporte teórico e metodológico a teoria geral do imaginário de Gilbert Durand e a análise psicocrítica de Charles Mauron, além de contribuições convergentes no âmbito das investigações alinhadas à proposta de remitologização da educação e cultura, sobretudo de outros autores do Círculo de Eranos.
Na intenção de uma releitura mítico-arquetípica do trajeto do artista, seguimos os procedimentos sugeridos por Durand, ensaiando uma mitocrítica de sua trajetória articulada com um ensaio de mitanálise do período em que viveu, a segunda metade do século XIX.
Com vistas a esse objetivo, examinamos sua correspondência e suas obras de arte a partir de uma dupla leitura, sincrônica e diacrônica, para detectar os traços de possíveis símbolos, cujos significados são passíveis de revelação no cruzamento do tempo vertical e do tempo linear, indicando a predominância de certos arquétipos, matrizes das grandes imagens da humanidade. Sendo o tempo existencial vinculado ao tempo cultural verificamos os movimentos de recursividade entre os mitos romântico e decadente, de forte presença no século XIX, e sua dinâmica com os mitos pessoais que orientaram o percurso do pintor, quase-pastor e eterno peregrino.
No âmbito de uma antropologia de inspiração educacional, o caminho de Van Gogh sugere uma noção de educação que possa contemplar as demandas internas do daimon vocacional, reunidas ao auxílio ao iniciado nas provas de uma via iniciática, visando a um conhecimento mais profundo, de teor gnóstico, conjugando o sagrado e o profano.
Perspectiva que se abre no contexto mais amplo de uma gnose renovada, por meio da recondução de uma razão monolítica e ciclópica a uma racionalidade aberta e generosa, capaz de acolher os paradoxos do homo sapiens-demens.
Nesse sentido, o processo educativo pressente-se como multidisciplinaridade viva e transcendente, recebendo com Eros e Psyché a pluralidade do ser humano, esse ser oximorônico, néoteno neg-entropo, que se constitui no trânsito recursivo em que as pulsões da fantasmática pessoal relacionam-se de modo concorrencial, antagonista e complementar com a fantástica coletiva. Processo no qual se tornam relevantes a percepção e apreensão da nossa herança mítica e dos poderes da imaginação, acolhendo esta que já foi ‘a louca da casa’, que então se transformaria em aliada na constituição de uma pessoa humana mais qualitativamente integrada na pluralidade da anima mundi.

Nenhum comentário:

Postar um comentário