sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Ecfrático do éden






No jardim em brasa,
 
a gardênia-rainha
 
embriaga o verão,
 
no primeiro dia.
 

domingo, 9 de dezembro de 2012



Para uma distante amiga

Como está a vida?
Ontem sonhei contigo
Estavas feliz
- e linda

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012


In memoriam (Oscar Niemeyer  15/12/1907-5/12/2012)

 
Dezembro desmaia:

burila, a morte, a navalha

nas curvas de Niemeyer

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Olá,
Começo a sair do longo inverno do luto. Esta primeira postagem é um texto escrito após a leitura do livro Valentia, de Deborah K. Goldemberg (Grua, 2012), querida mestra de oficinas literárias. Não é uma resenha nem uma crítica abalizada de especialista. Foi escrito sob o efeito da paixão que me inspirou Samaúma, o protagonista desse romance de formação. É isso. Enjoy!
manon+
 
Como se fez um valente
            Samaúma vive. Não a árvore, mas o homem, em carne e ossos, valentinas e deusdetes. Traído pelos deuses, ele acontece à revelia de si mesmo. Enraíza-se homem pela educação que renega, pela guerra que não quis lutar, pelo valente que não desejou ser, pelo facínora que acabou se tornando.
            A força de Samaúma, mestiço de europeu e índio, nos primeiros rabiscos já espanta. E espanto haverá a cada página, a cada sôfrego desespero, a cada instância que o aguarda nas curvas do Tapajós e nas aldeias revoltosas. Já nos começos somos rendidos pelo caráter do anti-herói do Norte nesse thriller existencial. O leitor, aturdido, seguirá desvelando o cristal insuspeito que se esculpe em sobressaltos. Engendra-se nas vísceras da alma o homem-leopardo, enquanto a engrenagem cabana se tece ao largo, até atingi-lo e exigir-lhe reação. Nada de ficar nos bastidores como o capataz teórico do líder, a vomitar belas letras e articular estratégias e logísticas. Afinal, com a Cabanagem, a vida chega-lhe sem paraquedas.  
 
        Samaúma – uma vez permitida a entrada da sua voz em nossa consciência, não se pode mais ignorá-la. Sobretudo por causa do rumor da profana religiosidade desse judeu-cristão, agnóstico, ateu; enfim, homem-fera na violência amorosa dos afetos extremos que jorram incontidos, rasgando-se no trajeto com o anzol da dúvida metafísica. Acima da polifonia dos descendentes cabanos, sua voz prospera: em Samaúma a pedra viva do vir-a-ser grita em surda e transparente angústia.
         Debate-se, resiste, quer fugir àquele fogo secreto que começou não sabia onde, exagerou-se nas veias e iria desaguar em praias ensanguentadas. Virou barco sem rumo, navio fantasma conduzido pelas tormentas caprichosas de oceanos urgentes, um sol negro a arder-lhe no espírito toldando o vislumbre de frágil felicidade. Então ele era só passagem – por isso não saberia ancorar na altiva Valentina, rocha solar em porto seguro.
 
        O tempo batia-lhe à porta, havia de se despedir da ladainha dos batas-mentores, espectros a perseguir-lhe os calcanhares da alma. Urgia-lhe ser. E ser no acontecer. Transmuta-se, despe-se da falsa compaixão de literato e a contragosto abre as comportas para o lutador destemido e respeitado.
 
         À sombra do destino extemporâneo a exigir ação premente afirma-se então no amor fati o homem-gigante. Ainda relutante no altar do Cristo Paixão, o solitário avatar também abandonado pelo Pai, cumprirá a sina adversa, ao invés do sonho valentino.
 
        Na escaramuça dos campos de batalha a guerra maior seguia sufocando-o de dentro, naquele negrume sem paz. Sorrateira, a morte contemplava o seu reverso e aguardava sem pressa o instante da perfeita armadilha. Espreitava-lhe em cada curva, nos tensos tropeços, nas veredas suicidas daquela revolta. General nos artifícios da luta, todavia soldado raso a obedecer ainda ao ex-comandante morto, finalmente foi pego. Aceitou aquela derradeira refrega quase sem peso, sob a qual iria sucumbir. Antes fortalecido no aleatório da peleja, hoje triturado, mastigado e cuspido para morrer, é na última solidão que enfim se reconhece. 
 
         O leitor percebe: Branches o receberá com um sorriso vitorioso do outro lado do espelho; e Valentina, com o amor mudo de outrora, finalmente aceitará o enlace daqueles destinos paralelos que se chocaram na espiral do improvável... Deusdete?
 
          Não perca tempo, vá banhar-se no vermelho de Samaúma.

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Este é um pedido de desculpas àqueles que porventura passarem por aqui. Novas postagens terão que esperar. A morte da minha amantíssima mãe, em 30 de abril de 2012, determinou essa quebra. E obrigou-me a repensar os projetos que eu estava tocando, inclusive este. Desta forma, não saberia dizer quando voltarei a escrever neste espaço.
manon+  

quarta-feira, 11 de abril de 2012

segunda-feira, 19 de março de 2012

Outono em vista

Mais um texto da série prosa poética, depois de uma ausência não planejada. Boa leitura a todos,
manon+
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O cru e o cozido de M

Um guizado de rebelião e alegria.
Uma salada de finas estrias, cortadas em mandolin, do doce e do amargo, do aéreo e do terrestre.

Um assado em forno lento de melancolia e tragédia.
Uma carne louca de panela com sabor de útero prolífico.

Um creme em arco-íris reforçado com maçarico.
Um bolo mexido em águas revoltas de ceticismo e compaixão, fé e desespero.

Um suflê das forças elementais, salpicado com flores policromadas e pó de pirlimpimpim.  
Uma mousse de alquímicas cores – o branco, o preto e o vermelho - em taças de finíssimo cristal.

Isto era o seu isso.




Agora, o que mais desejava era obter uma mistura ampla e profunda de tempo, espaço e silêncio.
Para degustar tudo, em ritmo de bicho-preguiça, pelo resto dos seus dias.
E só.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Axé!

Olá, visitantes!

Nesta tranquila segunda-feira de Carnaval, levo a vocês mais um texto que escrevi, da linhagem "prosa poética". Um ótimo feriado a todos!

manon+


Aluvial

Visões de ácido lisérgico. Trickters orquestrando a cegueira. Voluteou, carrapeta sem chão. Embarcou.

Em êxtase, tal e qual Santa Teresa, consumou o fatal equívoco. Suspenso o tique-taque dos relógios. E a marcha das estações do ano. Livres todos os bichos de estimação. Bem-vindos os puros alados com o confiante estandarte.

Então o salto com a perfeita moldura de rios e canoas, orlas e veleiros, pescadores e crepúsculos, zéfiro e cocais. Virou marionete, em espiral descendente: tibungo nas (ainda) insuspeitas águas. Onda, onda, onda – um relâmpago e a quebra na arrebentação.

Foi o último dos erros, prometeu-se. 

Aquelas três palavras, agora acorde congelado; e faíscas do fogo de palha ainda a girar em falso até que. Silêncio na caverna. Corpo em rebelião, furor nas entranhas. Finado este ciclo. Desperdício?

Hoje seres bestiais escarnecendo, o rangir de noviças vozes corroendo a mínima fé. Cheiro de pólvora nas veias, lâmina afiada pela dor: sem rodeios cortou a cabeça do mestre. Não houvera nenhuma réplica, não ouvira fátuas litanias, então arrebentara as correntes.

Amputado o próprio coração e restituídos gota a gota os ossos do espírito, há pouco se juntou à legião dos desmortos.
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Quase dezembro. Tudo mudara nas alamedas do parque, depois da erosão.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Livrarias bacanas pelo mundo

Acabo de esbarrar nesta matéria e não resisti. Então, vou postar o link para os outros ratinhos de livrarias e sebos.
Bjs,
manon+

http://exame.abril.com.br/estilo-de-vida/livros/album-de-fotos/7-belas-livrarias-para-visitar-ao-redor-do-mundo

Pobre poema

Postando mais um texto para o barco continuar navegando. Desculpas pela pobreza na rima, esse negócio de rima rica é trabalho de ourivesaria sem tempo pra terminar...Então, segue o esboço.
Bjs,
manon+


In memoriam


Ele, aviador nômade,

Ela, faminta de céu.

Colisão, eletrochoque.

Combustão, mausoléu.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Tradução e masoquismo

Assumi diante de pessoas conhecidas um certo masoquismo referente ao fato de gostar tanto de traduzir, dadas as dificuldades imensas dessa tarefa.
Compartilho um link que acabei de receber com um artigo que trata justamente do tema. Compara-se o  tradutor a um invisível mordomo, que só é percebido quando se mete em encrenca. Aí vai:
Bestiários

Prosa poética & gêneros

Este é um dos meus primeiros textos classificados como "prosa poética". Embora desconfie dos gêneros, eles parecem se fazer necessários. Há uma busca por definição das expressões criativas desde sempre, onde quer que a arte - ou aquilo a que chamamos de arte - se apresente. Outros diriam que o que importa é a qualidade literária (neste caso) o que também surge como algo quase da ordem do imponderável, que depende quase sempre de um argumento de autoridade. Quero dizer, daqueles que são reconhecidos no meio literário como pessoas capazes de emitir um julgamento sobre o que seria ou não "literatura".
Mas talvez um leitor atento e dedicado, embora anônimo, tenha a sensibilidade precisa para ler algo e perceber intuitivamente se essa qualidade está lá ou não. É quase mágico este momento! E acontece o tempo todo para os viciados em leitura. 
Espero que apreciem, então, a "prosa poética" do texto abaixo, cuja "história" teve vergonha de aparecer de corpo inteiro e só conseguiu mostrar-se em silhueta subjacente e escorregadia.

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Extravio no. 2

Novo exílio. Choques. Renovação? Disparate.
Pouco te arredarás de ti, embora tempo e espaço. Memória sem escape. Dores e dúvidas, sempre.
Fora, o concretado design do horizonte. Aqui, o verde e as ondas.
Nostalgia. Cidade feliz nunca mais? Mas trouxeste a floresta contigo...
Dormes, amanhã serás nascituro.  Pele nova, guerrearás com o dia, transmutarás. Como o azul da morpho didius entre os arranha-céus.
Divino dia, maligno ar - mas haverá protestos de agapantos e clerodendros...e da plena lua a engravidar os globos do mundo. Safira no céu. Cinza no perto. Preto em corpos andantes.
Começou. Sem a curva do tempo, resta deixar-te ir.
Para onde? Adiante, talvez.
Não queiras saber do impossível. Vive o mistério.
Aceita o contingente.
O que precisas. O que se esvai. O que fica?
E todo o resto.
Nada além disso. Nada além do que deve ser cumprido.
Tudo o mais é engano. Maya.
Amor em branco. Pane. É a lei desta era: noli me tangere.
Extinto o afeto, após o excesso dos bárbaros.
Pílulas para o prazer. Mudez. Solitude.
Naqueles dias.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Imaginário e arte em Van Gogh

Em 2004 defendi mestrado na área de Antropologia do Imaginário da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP) com uma dissertação intitulada Arte e Sensibilidade: as estruturas figurativas no universo de Vincent van Gogh.
A banca aprovou o trabalho com distinção e louvor e indicou o texto para publicação. Entretanto, até hoje não consegui meios de publicá-lo.
Para este ano, pretendo ir com mais afinco e persistência em busca de apoio para a publicação.
Anexo abaixo o resumo técnico desta pesquisa que consumiu cinco anos da minha vida, mas Van Gogh fez valer cada momento. A linguagem é meio específica, com jargões acadêmicos, mas no futuro espero postar aqui a notícia da publicação em livro, com o texto já devidamente revisado para o público em geral.



Ode à palavra

Ser não mais carpideira,
mas carpinteira da tua matéria
tátil e pedregosa e sutil e violenta.
Regente a orquestrar sons e imagens,
pintor a harmonizar tintas
e estampar arco-íris e lápis-lazúli
no teu corpo (ainda) descarnado.

Escultor a martelar e torcer e entortar de novo
tuas dobras e retas e oblíquas,
e tuas superfícies rugosas,
e a dar à tua carne a forma primordial e futura
que quisestes desde sempre.

Guerreiro a travar batalhas em teu nome
no espaço-habitação de três mil outras mônadas,
grileiro a estiolar teus outros nomes dos livros-pai
e tuas infindas tropelias das obras-mãe.

Deixar que repouses como iceberg sob as águas
e só mostrares os pingos dos is,
enquanto o profundo só se dá
ao que é capaz do divinatório.
Comer-te, beber-te, sonhar-te,
pois só você me restou.
Mas que esplendoroso resto és tu!
E nada mais me faltará.





Licença Creative Commons
O trabalho Ode à palavra de Maria Helena Vieira de Araújo foi licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição - NãoComercial - SemDerivados 3.0 Não Adaptada.
Podem estar disponíveis autorizações adicionais ao âmbito desta licença em http://overboescarlate.blogspot.com/.

Primeiros passos

No início, lá bem no comecinho, eram os rabiscos em qualquer lugar.
Depois, um caderninho exclusivo.
Mais adiante, outros cadernos e blocos de anotações.
Alguns sobre emoções que só o papel em silêncio podia conter.
Outros eram observações - a maioria cheias de assombro - sobre o exercício de viver.
E ainda muitos em substituição a cartas jamais enviadas, quando a timidez se fazia déspota.
Quase todos prometidos ao fogo, em núpcias de cinzas futuras.
Do que sobrou, hoje: reunir, organizar, revisar. Agir, enfim, em prol da transmutação.
Um dia, quem sabe, chegarão até leitores. Pois - dado que Vanitas vanitatum, omnia vanitas - aquele que escreve em geral quer deter o privilégio de ser lido.
Bom dia a todos os navegantes!
manon+

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Tirando as letras do armário

Parece que o tempo é agora.

Depois de escrever durante anos sem ter coragem de mostrar os textos a nenhum vivente - conhecido ou desconhecido - vou começar a caminhada. Nesta trilha, espero não só escrever mais e melhor, mas também ser lida. Com todos os riscos inerentes ao que me proponho!
Além disso, é a minha experiência como "blogueira"! O novo tanto assusta quanto fascina, então é deixar de lado os receios e a insegurança e simplesmente começar. Desculpas antecipadas pelas falhas de marinheira em primeira viagem...

Estou disposta a compartilhar e espero ser uma boa companhia. E desejo encontrar muitos outros amantes do verbo pelo caminho.

Um abraço inaugural de,

manon+